Descubre millones de libros electrónicos, audiolibros y mucho más con una prueba gratuita

Solo $11.99/mes después de la prueba. Puedes cancelar en cualquier momento.

Rosie e os seus maravilhosos óculos coloridos
Rosie e os seus maravilhosos óculos coloridos
Rosie e os seus maravilhosos óculos coloridos
Libro electrónico315 páginas4 horas

Rosie e os seus maravilhosos óculos coloridos

Calificación: 5 de 5 estrellas

5/5

()

Leer la vista previa

Información de este libro electrónico

Tal como os opostos se atraem, também podem causar fricção.
E ninguém sente mais fricção do que Willow, filha de Rex e Rosie.
Rex é um homem sério, pouco emocional e cola listas de tarefas na porta do quarto de Willow. Rosie é cintilante e encantadora e encontra-se com Willow a meio da noite na casa da árvore para fazerem banquetes de doces.
Depois do divórcio de Rex e Rosie, Willow vê-se a navegar entre os seus dois mundos tão diferentes. Vive sem sombra de dúvida sob o encantamento da sua emocionante, divertida e amorosa mãe.
Mas quando o comportamento de Rosie se torna mais turbulento, são revelados os alicerces mais negros do seu amor maníaco.
Há muito que Rex retirou os maravilhosos óculos coloridos de Rosie, mas será que Willow vai fazer o mesmo?
IdiomaEspañol
Fecha de lanzamiento1 abr 2018
ISBN9788491392712
Rosie e os seus maravilhosos óculos coloridos

Relacionado con Rosie e os seus maravilhosos óculos coloridos

Títulos en esta serie (35)

Ver más

Libros electrónicos relacionados

Ficción general para usted

Ver más

Artículos relacionados

Comentarios para Rosie e os seus maravilhosos óculos coloridos

Calificación: 5 de 5 estrellas
5/5

1 clasificación0 comentarios

¿Qué te pareció?

Toca para calificar

Los comentarios deben tener al menos 10 palabras

    Vista previa del libro

    Rosie e os seus maravilhosos óculos coloridos - Brianna Wolfson

    Editado por HarperCollins Ibérica, S.A.

    Núñez de Balboa, 56

    28001 Madrid

    Rosie e os seus maravilhosos óculos coloridos

    Título original: Rosie Coloured Glasses

    © 2018, Brianna Wolfson

    © 2018, para esta edição da HarperCollins Ibérica, S.A.

    Publicado originalmente por Mira Books, Ontário, Canadá.

    Tradutor: Mariana Mata

    Reservados todos os direitos, inclusive os de reprodução total ou parcial em qualquer formato ou suporte.

    Esta edição foi publicada com a permissão da Harlequin Books, S.A.

    Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são usados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos comerciais, factos ou situações são mera coincidência.

    Desenho da capa: Calderónstudio

    Imagem de capa: Dreamstime.com

    I.S.B.N.: 978-84-9139-271-2

    Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

    Sumário

    Rosie e os seus maravilhosos óculos coloridos

    Créditos

    Sumário

    Prólogo

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Capítulo 21

    Capítulo 22

    Capítulo 23

    Capítulo 24

    Capítulo 25

    Capítulo 26

    Capítulo 27

    Capítulo 28

    Capítulo 29

    Capítulo 30

    Capítulo 31

    Capítulo 32

    Capítulo 33

    Capítulo 34

    Capítulo 35

    Capítulo 36

    Capítulo 37

    Capítulo 38

    Capítulo 39

    Capítulo 40

    Capítulo 41

    Capítulo 42

    Capítulo 43

    Capítulo 44

    Capítulo 45

    Capítulo 46

    Capítulo 47

    Capítulo 48

    Capítulo 49

    Capítulo 50

    Capítulo 51

    Capítulo 52

    Capítulo 53

    Capítulo 54

    Capítulo 55

    Capítulo 56

    Capítulo 57

    Epílogo

    Prólogo

    Willow Thorpe conhecia a fricção. O calor que provocava uma coisa a esfregar-se noutra. Quando um mundo se esfregava contra outro.

    Willow sentia-a sempre que se sentava no banco de trás do carro da mãe, apertava o cinto, agarrava na mão do irmão e se preparava para regressar a casa do pai. Sempre que olhava pela janela do carro da mãe e seguia as curvas familiares das ruas a caminho de casa do pai. Sempre que o pai abria a enorme porta de entrada e resmungava: «Outra vez atrasada, Rosie.» Sempre que a mãe respondia com um sorriso forçado e um: «Até logo, Rex.»

    Sempre que olhava para o pai e se apercebia da forma como os joelhos dela batiam um no outro. Sempre que trocava paredes cobertas de quadros por umas completamente brancas. Sempre que trocava lápis de cera coloridos por uns amarelos de carvão número dois.

    Willow tinha noção de que os filhos de outros pais divorciados fantasiavam sobre voltar a ter a mãe e o pai apaixonados. Sobre a mãe apertar a gravata do pai de manhã, antes de ir para o trabalho. Sobre o pai apertar o fecho do vestido da mãe à noite, antes do jantar. Sobre a mãe e o pai darem um beijo espontâneo nos lábios achando que as crianças não estavam a ver. Sobre molduras espalhadas pela casa a mostrar imagens de famílias completas: mãe, pai, um irmão e uma irmã, abraçados uns aos outros.

    Mas Willow não pensava em nada disso.

    Pensava no seu pai sério e exigente num mundo, e na sua mãe carinhosa e estonteante no outro. E nas três vezes por semana em que esses mundos chocavam um contra o outro.

    Mas esse chocar de mundos, toda essa fricção e ardor, valia a pena para Willow desde que pudesse depois regressar ao mundo da mãe.

    Pois nesse mundo, o amor da mãe era mágico e feroz. Willow sentia que esse tipo de amor podia cristalizar-se dentro dela e fortificá-la. Que podia preenchê-la no sentido mais verdadeiro e real. Que podia mantê-la segura e feliz para sempre.

    Mas Willow estava enganada.

    Em breve, na sua vida haveria confusão e tristeza, dor e perda. E o amor maníaco da mãe pela filha não conseguiria proteger Willow de nenhuma dessas coisas. De facto, podia até tê-las causado.

    Capítulo 1

    Há doze anos

    Aos vinte e quatro anos, Rosie Collins acreditava que o amor era igualmente particular e desgastante. Acreditava que o amor verdadeiro entrava tanto pela parte de trás do lóbulo da orelha como pelo coração. Acreditava que havia uma maneira especial, única, de um ser humano poder amar outro. E pensava nessas forças únicas e invisíveis do amor sempre que via namorados juntos no parque, no metro ou sentados num banco. Imaginava os nomes que chamavam um ao outro antes de irem para a cama. O sítio favorito dele para colocar a mão. A camisa favorita dele que ela usava na cama. A tontice que ela dizia que o fazia rir sem parar. O quadro horrível que ele comprou para o apartamento de ambos que ela adorava ver na parede da sala.

    Rosie começou a trabalhar na florista Blooms na rua 22 com a Oitava Avenida assim que se mudou para Manhattan, em parte por causa do dinheiro, em parte porque gostava da ideia de alguém chamada Rosie trabalhar numa florista. Mas acima de tudo, aceitou aquele trabalho para poder ter acesso a essas forças do amor. Tal como em todos os seus outros trabalhos menores, teria de desempenhar algumas tarefas rotineiras, mas desta vez a arranjar flores, a mexer na caixa registadora e a transcrever mensagens para cartões. No entanto, Rosie achava que talvez conseguisse aguentar-se mais tempo no emprego do que as habituais seis semanas, pois na florista Blooms viu o significado maior do seu trabalho.

    Via-se como uma promotora do amor. Fantasiava com os milhares de histórias de amor em que ia testemunhar o mais ínfimo relance, quando os clientes lhe telefonassem um a seguir ao outro a partilhar um pequeno pedaço de si mesmos. Contar-lhe-iam qual era a flor preferida da namorada, o poema favorito da noiva. De como queriam um ramo perfeito para aparecer na secretária da esposa no dia do aniversário ou a seleção perfeita de flores para lhe dar os parabéns. Ou apenas enviar-lhe alguma coisa só porque sim.

    Estava tão entusiasmada que passou o domingo inteiro antes do primeiro dia de trabalho a praticar a caligrafia. Rosie queria ter a certeza de que escrevia cada letra de forma única e a ornamentava o suficiente para refletir a beleza e originalidade do amor por trás do bilhete. Mal dormiu na primeira noite com a ansiedade de ir ter acesso à voz autêntica, nua e descarada do amor. Era uma voz que ela amava tanto, mesmo não fazendo ainda parte da sua vida.

    Mas Rosie teve um desgosto logo na primeira semana na Blooms quando, dia após dia, homens ligavam a pedir para entregarem doze rosas vermelhas à namorada, mulher ou amante com um cartão onde simplesmente se lia «Com amor, Jim», ou «Do Tom», ou apenas «Harry».

    Por acaso não havia algumas mulheres a preferir hortênsias, crisântemos ou lírios? Por acaso algumas dessas flores não iam para mulheres que preferiam cor-de-rosa, branco ou uma mistura de cores? Será que os homens apaixonados não sabiam esse tipo de coisas sobre as suas próprias namoradas? Será que não queriam preencher aquele cartão pequenino que acompanhava o arranjo com as palavras mais carinhosas, verdadeiras e perfeitas?

    Quando se manda flores à mulher, não se quer com isso dizer: «Esta é a forma como ainda me sinto quando te olho profundamente nos olhos»? Quando se ama alguém, não se quer dizê-lo da forma mais perfeita, única e indisfarçada? Como é que todos aqueles homens amavam as mulheres com as mesmas doze rosas vermelhas e um «Com amor, John», «Do Rob» ou um mero «Colin»?

    O coração de Rosie partiu-se ao pensar que o amor pudesse ser assim tão, tão banal.

    Mas Rosie também não era do tipo de ficar de braços cruzados e coração partido durante muito tempo. Especialmente quando isso ameaçava a sua visão do mundo. Se os homens de Manhattan não conseguiam exprimir o amor corretamente, ela ia ajudá-los. Refinar-lhes-ia os gestos com toques únicos e originais, quer fossem ou não autênticos.

    De modo que tomou como missão fazer com que nenhum cartão deixasse a florista Blooms com uma mensagem genérica ou uma assinatura penosamente aborrecida. Substituía todos os pedidos de bilhetes insípidos por outros que considerasse mais apropriados como gesto de amor. «Estavas linda ontem à noite. Com amor, Alex.»; «Acabo de pensar em como parecias tão encantadora mesmo com um pedaço de comida presa nos dentes. Amo-te, Ryan.»; «Sou uma pessoa melhor contigo por perto. Com amor, Charlie.»; «Espero que nos voltemos a ver muitas e muitas vezes. Um beijo, Ian.». E dava um grande sorriso ao atar cada cartão à volta do ramo antes de o mandar entregar.

    Eram essas as histórias de amor de que Rosie queria fazer parte. Mesmo que não fossem reais, Rosie ainda acreditava que fossem de algum modo verdadeiras.

    Durante semanas e semanas não houve uma única pessoa a mencionar os seus toques de amor. Ninguém, até Rex Thorpe ligar e pedir que fosse enviado um ramo de doze rosas vermelhas à namorada no 934 da Avenida Columbus.

    — E o que quer escrever no bilhete? — perguntou Rosie sem entusiasmo.

    Rosie já tinha falado antes ao telefone com esse género de homens com namorada no Upper West Side. Insolentes. Provavelmente com um emprego bem remunerado. Provavelmente bem-parecidos, mas também profundamente idiotas. Provavelmente com uma namorada bonita a quem raramente diziam: «Amo-te».

    — O bilhete? Qual bilhete? — respondeu rudemente Rex.

    — O bilhete que acompanha a dúzia de rosas vermelhas.

    Pausa momentânea.

    — Senhor? — acrescentou ela enquanto revirava os olhos e passava a sua condescendência pelo telefone.

    — Sei lá eu.

    Silêncio. E depois o som repulsivo de pastilha elástica a ser mascada ao telefone.

    — Para a Anabel. Com amor, Rex. Acho eu.

    E desligou.

    Rosie achou Rex e toda a interação completa e loucamente insultuosa para com ela e para com o verbo amar. De novo.

    E por isso preencheu o bilhete da forma que achou mais apropriada — com o seu poema favorito de E. E. Cummings:

    Amor é mais denso do que esquecer

    Mais fino do que recordar

    Mais raro do que uma onda é molhada

    Mais frequente do que falhar

    É insanamente louco e lunar

    E menos não poderá ser

    Do que todo o mar que só

    É mais profundo do que o mar

    Amor é sempre menos que ganhar

    Nunca menos do que estar vivo

    Menos maior do que o menor começar

    Menos menor do que perdoar

    É o mais são e solar

    E tão mais que não pode morrer

    Do que todo o céu que só

    É mais alto do que o céu

    A seguir assinou-o em nome dele: «Amo-te, Rex.»

    Tinha sido a primeira vez que Rosie tinha usado palavras de alguém para além das suas nos bilhetes. Nunca tinha invocado nenhum dos seus poetas favoritos. Mas dessa vez, com a idiotice suprema de Rex Thorpe a contrabalançar, parecia-lhe encaixar na perfeição.

    Nem sequer para Rosie era claro se estava a tentar salvar a namorada de Rex de algum modo ou se estava implicitamente a mostrar-lhe algo sobre como deveria ser o amor. De qualquer modo, agora o esforço dela estava gravado a tinta e ia aparecer à porta de Anabel em trinta e seis horas.

    E Rosie estava contente.

    Quando Rex chegou à porta da namorada para receber os créditos pelas flores que tinha enviado, Anabel lançou-lhe imediatamente os braços ao pescoço. Sem que Rosie soubesse, Anabel era estudante de literatura e grande admiradora de E. E. Cummings.

    — O teu bilhete é perfeito — disse Anabel ao namorado. — Vou guardá-lo para sempre. Também te amo — acrescentou.

    Rex sabia que Anabel tinha a certeza de que iam casar-se e a Rex ainda não tinha ocorrido nenhuma razão para que isso não estivesse certo.

    Recebeu o seu abraço desmerecido sem uma palavra em resposta. Mas quando viu o bilhete naquele ramo ficou furioso. Pois não estava nada interessado em linguagem floreada e não estava definitivamente interessado em ninguém a fazer fosse o que fosse sem a sua explícita permissão.

    Aos trinta e seis anos, Rex Thorpe era simultaneamente sério e único sobre as coisas da sua vida. Sobre as suas calças Brooks Brothers e as camisas engomadas abotoadas de cima a baixo. Sobre a mobília Eames do seu apartamento. Sobre os restaurantes que frequentava no Upper West Side e os graus académicos das pessoas com quem convivia. Sobre o uísque que bebia e a forma do copo onde era servido. Sobre a marca da tinta preta da sua esferográfica. Sobre a visão dele próprio como homem respeitado de sucesso. Sobre ser um homem autêntico.

    Rex concentrava a sua atenção de forma tão meticulosa e intensa em todas essas coisas que nunca sentiu que fosse lógico ou valesse a pena despender qualquer energia em Anabel DeGette. Nunca se preocupou o suficiente com ela para se desviar da sua forma de ser, mesmo que ela fosse suficientemente agradável e bonita. O próprio Rex estava perfeitamente ciente de que, se uma mulher agradável e bonita não fizesse parte da sua ideia do que era uma vida «bem-sucedida», provavelmente não se preocuparia minimamente com mulheres, de todo. Mas como fazia, sabia que ocasionalmente precisava de expressar algum sentimento de afeição enquanto simultaneamente ignorava a namorada e passava o tempo todo a trabalhar. E um ramo de doze rosas com um bilhete a dizer «Com amor, Rex» era o que ele tinha decidido ser necessário.

    — Mas que raio de merda é que você fez? — gritou retoricamente Rex a Rosie no dia seguinte, ainda antes de ter ambos os pés à porta da Blooms. — Dei-lhe instruções claras para o bilhete. E em nenhuma parte essas instruções incluíam um poema de merda do E. E. Cummings. Quem raio é que pensa que é para interferir e manipular as minhas palavras?

    Estava preparado para continuar a barafustar, mas parou abruptamente à vista de Rosie no seu vestido colorido pelo joelho. Com o cabelo castanho despenteado a escapar de uma trança meio desfeita. Com a franja que quase lhe cobria a curvatura das espessas sobrancelhas. Com as luvas manchadas de flores, tão comicamente grandes para as sem sombra de dúvida mãos pequeninas no final dos seus pulsos pequeninos. Com o corpo miudinho. Com o ligeiro arrebite do nariz. As sardas. A forma como os cantos dos olhos se curvavam alongando-se para baixo. A forma como bamboleava as ancas e entoava a melodia do Leather and Lace do Stevie Nicks e do Don Henley. A forma como brilhava.

    E, mais importante do que tudo, a forma como ignorou por completo a fúria dele.

    Rex emudeceu perante tudo aquilo.

    Ficou parado, de boca aberta, desapontado por Rosie ainda nem sequer ter levantado o olhar na sua direção. Pensou que podiam cruzar olhares. Só por um momento. Queria cruzar o olhar com ela. Queria olhá-la diretamente nos olhos e ver algo de novo.

    Sem sequer levantar o olhar do seu aparo diário de espinhos, Rosie sabia que era Rex quem tinha irrompido porta adentro. Espreitou rapidamente por debaixo da franja. Bem-parecido e idiota, de facto.

    Tentou manter o olhar baixo, em direção às rosas que tinha nas mãos enquanto Rex falava com ela, mas perdeu a batalha quando as palavras pararam. Encontrou os olhos de Rex Thorpe por um mero instante e lá estava tudo. As sobrancelhas rebeldes. Os ombros fortes. A pele suave. As covinhas nas bochechas. O cabelo preto.

    A presença.

    Rosie não conseguia aguentar estar na loja com aquela tensão esmagadora. Aquela repulsa e atração simultâneas. Por isso abanou as mãos até as luvas de lona caírem em cima do balcão. E então pegou na sua mala de lona cheia de cadernos de notas escrevinhados e gulodices e escapuliu-se à frente de Rex sem dizer uma única palavra. Concentrou-se de tal modo em sair porta fora e deu tão pouca atenção ao que se estava a passar na loja que nem sequer parou para se aperceber do lápis de cera azul e da meia dúzia de moedas a caírem do bolso da mala que arrastava atrás de si.

    Enquanto caminhava em direção à porta, sentiu outro arrepio. Apesar de não partilhar o mesmo princípio de Rex, admirava-lhe bastante a autenticidade. Nem todas as pessoas, todos os homens, exprimiam a sua opinião daquela maneira. Nem todos permitiam que os outros soubessem assim o que os tinha magoado. O que os tinha irritado. Agradado. Excitado. Havia uma sensualidade na autoconfiança de Rex. A sua masculinidade. As suas convicções. Mas mesmo com todos aqueles pensamentos sobre o homem tão firmemente especado no meio da Blooms, Rosie desapareceu dali para fora e decidiu tirar a tarde de folga.

    Subiu para a bicicleta e, sem se preocupar minimamente, dirigiu-se diretamente para o seu ramo favorito do salgueiro de Central Park. Só com a melodia do Leather and Lace na cabeça. E o aroma silvestre de Rex no nariz.

    Capítulo 2

    Acontece que Willow Thorpe odiava as quartas-feiras. Pelas leis do divórcio, as quartas eram sempre dias de pai. E os dias de pai eram cheios de trabalhos de casa, de aulas de piano e listas de tarefas.

    Mas não passou muito tempo até a mãe conseguir fazer das noites de quarta-feira as favoritas da semana de Willow. Com mais uma aventura, mais uma oportunidade para receber tanto amor.

    Willow enfiou a sua t-shirt preferida do Keith Haring por cima do seu cabelo forte até lhe cair sobre os ombros. Sorriu quando se olhou ao espelho para escovar os dentes e se viu a usá-la. Adorava aquela t-shirt demasiado grande com linhas grossas onduladas e cores vivas. Adorava como espalhava alegria por todo o lado. Como as figuras pareciam tão simples e tão felizes a dançar juntas.

    Limpou a pasta de dentes dos cantos da boca e enfiou-se debaixo dos lençóis. E depois esperou. Fechou os olhos com força como se estivesse a dormir. Mas não estava nem perto disso. Depois esperou mais um pouco. E quando o despertador da meia-noite tocou, era como se todo o tempo do universo, e tempo nenhum, tivesse passado.

    Com um formigueiro à superfície da pele, Willow enfiou os chinelos, agarrou na lanterna da mesa de cabeceira, deslizou a almofada para debaixo dos lençóis para o caso de o pai vir vê-la e desceu delicadamente em bicos de pés as escadas das traseiras. Agarrou no corrimão para se equilibrar, mas desceu os degraus com naturalidade. Era uma pena que Willow estivesse na sua forma mais graciosa naquela escadaria escura a meio da noite quando ninguém a ia ver.

    Willow pousou os dedos dos pés lentamente, de propósito, na alcatifa luxuosa que cobria cada degrau. Passou pela cozinha, escapuliu-se pela porta das traseiras e fez o caminho até ao extremo oposto do jardim. Aquele momento, parada à beira da relva perfeitamente aparada sem mais nada à frente a não ser árvores gigantes, fez o seu coração tremer. Era apenas Willow ali sozinha no escuro. Não havia mais nada para além do sincopado som das cigarras e dos ténues sons crepitantes do bosque. Nada para além da fresca acidez do ar noturno de outubro a encher-lhe os pulmões.

    Podia sentir a excitação a pulsar-lhe nas veias. Estava na extremidade do mundo do pai e à beira do precipício do da mãe. Ali era a entrada para a felicidade.

    Desatou a correr pela relva densa para as profundezas das árvores. «Só trinta e sete passos e meio», disse a si mesma enquanto se apressava sobre as folhas secas caídas e paus fininhos até à casa da árvore. Ela e a mãe tinham uma vez contado os passos. Rosie até se tinha assegurado de contar com o comprimento da passada de Willow em vez da dela.

    E quando Willow chegou à base da escada que levava até cima, fez o sinal: três cliques da lanterna. Depois esperou, de olhos bem abertos e coração a bombar. E sem se fazer esperar, Rosie devolveu o sinal e pôs a cabeça de fora da base da casa da árvore.

    Willow queria sempre subir tão rapidamente a escada de cada vez que via a mãe, mas sabia que os seus joelhos fracos não se conjugavam com os bambos degraus de madeira. Mal era capaz de se manter em pé no chão liso do corredor do quinto ano, quanto mais numa velha escada. Por isso subia devagar, colocando os dedos em torno de cada degrau de madeira, agarrando-os depois com toda a força enquanto deixava o pé subir lentamente, um degrau de cada vez.

    E quando Willow finalmente chegasse ao cimo, a mãe ia levantá-la pelos braços e beijá-la com toda a força na bochecha, tão decidida. Juntas, Willow e a mãe iriam cantar, dançar, falar e desenhar à luz da lanterna. Iriam pintar e fazer guerras de polegares, jogar Twister e à moeda. Iriam fazer caretas à vez. Iriam amar-se tanto uma à outra.

    E quando as paredes da casa da árvore estivessem cheias de novos desenhos, as suas bocas cheias de coloridos cristais de açúcar Pixy Stix[1], as barrigas de gasosa, e o ar da casa da árvore ficasse saturado com sons do Elton John vindos das pequenas colunas da mãe, Willow deitava a cabecita no seu colo e suspirava.

    — Mamã, porque é que tu e o pai se divorciaram? — A voz suave e rouca de Willow ouviu-se no silêncio.

    — Bem, gostas mais de ser acordada pelo sol ou por um despertador? — perguntou-lhe Rosie.

    — Pelo sol — respondeu Willow muito rapidamente.

    — Eu também, meu amor — disse calmamente Rosie enquanto beijava Willow no meio da sua testa suave. E depois Willow suspirava outra vez no colo da mãe.

    Quando o relógio de Rosie dava a uma da manhã, ela e Willow arrumavam as embalagens e brinquedos, apagavam a lanterna e balançavam-se escada abaixo. Rosie com calma e Willow com uma concentração total.

    E quando Willow chegava à porta das traseiras da casa do pai, esperava e observava a mãe a afastar-se na descida do caminho de entrada. Observava o cabelo de Rosie a balançar-se levemente enquanto os seus braços delgados se mexiam para manter a pilha de gasosas, doces e lápis de cor mal empilhada contra o seu peito. Willow observava a mãe em toda a sua serenidade, toda a sua efervescência, até ser gradualmente absorvida pela escuridão.

    Inevitavelmente, antes de desaparecer, Rosie deixaria cair um lápis ou marcador e deixá-lo-ia rolar pelo chão sem mostrar qualquer intenção de apanhá-lo. A sua mãe nem sequer parava para perceber o que tinha sido o ténue som da coisa que se lhe tinha escapulido dos braços e batido no asfalto. Rosie limitava-se a entrar no carro onde as luzes do interior lhe revelavam a silhueta de novo. E quando baixava os vidros, levava as duas mãos aos lábios e estendia os braços para fora na direção de Willow. Era ela a mandar um beijo através da escuridão

    ¿Disfrutas la vista previa?
    Página 1 de 1