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Viver com Integridade e Sabeduria
Viver com Integridade e Sabeduria
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Viver com Integridade e Sabeduria

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O tempo é a prova do caráter de um homem. O caráter é a medida da virilidade. A sabedoria chega com os anos... Essas frases podem soar muito repetidas, porém contêm grandes verdades. A integridade e a sabedoria são essenciais para a vida de um cristão. Neste livro, o Dr. Núñez nos conduz à Escritura, resgata esses valores e nos guia de maneira prática em sua aplicação em cada área de nossa vida.

Time is the test of a man's character. Character is a the measure of a man. Wisdom comes with the years. These may sound cliché, but they hold great truths. Integrity and Wisdom are central in a Christian's life. In this book, Dr. Núñez brings us to Scriptures and rescues these two values; and guides us in practical ways to live these out in every area of our lives.

IdiomaEspañol
Fecha de lanzamiento1 sept 2017
ISBN9781535900799
Viver com Integridade e Sabeduria

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    Viver com Integridade e Sabeduria - Miguel Núñez

    mundo.

    1.

    A INTEGRIDADE: UM VALOR EM EXTINÇÃO

    E dos filhos de Issacar, os quais eram homens que tinham entendimentos dos tempos, para saber o que Israel deveria fazer; os cabeças deles eram duzentos; e todos os seus irmãos estavam sob o seu comando.

    1 Crônicas 12:32 - BKJ Fiel 1611.

    A crise de integridade em nossos dias

    Atualmente, estamos passando por uma crise de valores e não acreditamos que haja uma única pessoa na sociedade que coloque isto em dúvida. Ao analisar nossos tempos, ou seja, nossa realidade como sociedade do século XXI na América Latina, percebemos que a integridade é um valor em extinção. E isto não acontece somente no nível secular; muitas vezes ocorre até mesmo em meio ao povo de Deus. Temos observado que a maioria dos cristãos nunca parou para pensar e refletir no que significa realmente viver com integridade e sabedoria fora das quatro paredes da igreja.

    É importante que reconheçamos o momento histórico em que estamos vivendo e como esta crise de valores atinge a sociedade e a vida do cristão. Por isso, hoje, mais do que nunca, a Igreja precisa de homens e mulheres que, como os filhos de Issacar, sejam especialistas em discernir os tempos (1 Cr 12:32), sejam capazes de conhecer e entender a época em que vivem, e que com a sabedoria que possuem tenham a habilidade de saber o que devem fazer como indivíduos, como família, como igreja, como empresários e ainda como nação, caso precisem dirigi-la.

    Esta crise de valores tem tido consequências em diferentes níveis: em primeiro lugar, no nível individual. Tanto em homens como em mulheres, podemos observar uma falta de integridade ou uma crise moral que tem a ver com o fato de não possuir a força de caráter necessária para se sustentar em tempos de dificuldade, para suportar a pressão e viver moralmente. Isso afeta todas as áreas de sua existência e se traduz em uma falta de respeito para com a vida, o próximo, as instituições e a autoridade.

    Em 2005, uma pesquisa realizada pela empresa Gallup nos Estados Unidos revelou que 59% dos norte-americanos acreditam que, para ter êxito, é preciso fazer de tudo, custe o que custar, e que 42% opinaram que para ter sucesso é preciso mentir. Isso foi contado por Norman Geisler em seu livro intitulado Integrity at Work [Integridade no trabalho]⁹. Se esta é a mentalidade com a qual o indivíduo vive no nível pessoal, imagine agora o que pode acontecer quando essa pessoa torna-se um empregado, um gerente ou o presidente de uma empresa. A maneira como essa pessoa vive no nível pessoal terá impacto em todas as demais áreas de sua vida.

    Em segundo lugar, essa crise de valores tem tido consequências no nível familiar. É lamentável a instabilidade vivida por muitas famílias em nossa sociedade. Vemos o distanciamento entre seus membros a tal ponto que, mesmo vivendo sob o mesmo teto, estão emocionalmente distantes uns dos outros. A cada dia vemos mais famílias fragmentadas e um aumento na taxa de divórcios, que em algumas sociedades chega a 50%. E isto sem contar aqueles casais que, apesar de não estarem divorciados do ponto de vista legal, vivem separados física e emocionalmente, de tal forma que é quase como um divórcio.

    Em terceiro lugar, há consequências também no nível institucional, tanto na área privada como na governamental. A corrupção, a ineficiência no trabalho e a falta de ética profissional são o resultado de uma crise de valores a nível individual que está afetando toda a sociedade.

    Infelizmente, na América Latina temos vários exemplos disto. O ex-presidente do Brasil, Fernando Collor de Mello, segundo relata Arnaldo Wiens, construiu seu prestígio apresentando-se como um combatente contra a corrupção. Ficou conhecido como prefeito de Maceió e governador de Alagoas por suas batalhas contra os marajás, como são chamados os funcionários que recebem sem trabalhar no Brasil. Essa foi a imagem pública que sustentou sua vitória nas eleições de 1989¹⁰. Essa pessoa foi eleita por suas promessas de que iria lutar contra a corrupção no Brasil. No momento de sua renúncia, no dia 29 de dezembro de 1992, Collor de Mello, com a ajuda de seu tesoureiro, havia desviado para ele e sua família cerca de 350 milhões de dólares, produto do tráfico de influências¹¹.

    Como alguém que baseia sua campanha política no combate à corrupção acaba roubando o dinheiro da nação que prometeu defender? É que o poder tem um efeito embriagante e, se a pessoa não tem convicções sólidas, é difícil se manter firme quando a tentação se apresenta.

    No entanto, o que aconteceu no Brasil não é muito diferente da realidade de outros países latino-americanos. No dia 21 de maio de 1993, o presidente da Venezuela, Carlos Andrés Pérez, foi destituído por malversação de dinheiro público. Em 29 de março de 1996, foi outorgado asilo político ao vice-presidente do Equador, Alberto Dahik, na Costa Rica, assim que o Congresso Nacional o acusou de corrupção e abuso do exercício de suas funções. No dia 7 de abril de 2009, Alberto Fujimori, ex-presidente do Peru, foi condenado a 25 anos de prisão por ser o "autor dos crimes de homicídio qualificado, pelo assassinato em circunstâncias agravantes dos estudantes de La Cantuta e do caso Barrios Altos"¹².

    O Banco Mundial identificou a corrupção como o obstáculo número um para melhorar o nível de vida de mais de um bilhão de pessoas que vivem com um dólar por dia. No dia 14 de maio de 2004, uma comissão do Senado norte-americano recebeu um informe de que o Banco Mundial havia perdido, desde 1946, cerca de 100 bilhões de dólares em empréstimos destinados a nações mais pobres, produto da corrupção. Outros 26 a 130 bilhões de dólares não foram usados adequadamente por essas nações¹³. Enquanto isso, nesses mesmos países, 16 mil crianças morrem de fome a cada 24 horas. Diante de tal realidade, Deus espera que Sua Igreja não permaneça calada e nem de braços cruzados.

    Esta é a realidade de vários governos latino-americanos cujos representantes têm sido acusados de corrupção em várias ocasiões. Infelizmente, o povo de Deus não está isento deste mal, e temos visto como muitos pastores também têm se envolvido em escândalos de corrupção. Entretanto, apesar dos tempos em que estamos vivendo, como cristãos devemos recordar que a Igreja recebeu a função de ser sal e luz, e não deve se calar, nem tampouco permanecer passiva diante de realidades como estas.

    Fatores que contribuem com a corrupção administrativa

    Existem vários fatores que contribuem com a corrupção administrativa. Um deles é a instabilidade política que resulta da troca de governos a cada quatro anos. Em países como os nossos, isto faz com que os funcionários do governo assumam o poder com a mentalidade de que têm quatro anos para enriquecer. Isto tem sido analisado e estudado.

    Outro fator que contribui com esta realidade é a burocracia administrativa, e você pode até se perguntar como, mas o que acontece é que, quanto mais demorados são os processos e trâmites administrativos, mais dinheiro para reduzi-los as pessoas estão dispostas a pagar. Se os escritórios trabalhassem de forma eficiente, não haveria necessidade de pagar para agilizar os processos.

    Um terceiro fator é a presença de um sistema legislativo e judiciário fraco, no qual as leis não são bem formuladas e muito menos aplicadas de forma firme e imparcial. Por outro lado, em culturas como as nossas, a existência do "nepotismo" é um outro fator que contribui para a corrupção administrativa. É muito comum ver indivíduos que conhecem alguém, ou que estão de alguma forma vinculados a uma pessoa cuja influência ou conexões sociais podem ser usadas para obter algum tipo de benefício ou para evitar que se tenha que cumprir uma responsabilidade em um determinado momento.

    Por último, a existência de "uma cultura da pena, algo que é muito peculiar aos países latino-americanos, também tem contribuído muito para o aumento da corrupção e da crise administrativa atual. O fato de tomar decisões por pena" do outro permite uma série de situações que nunca deveriam acontecer. Mesmo dentro da igreja, às vezes não tomamos decisões porque nos dá pena do efeito que estas causam à congregação. Mas a pena que sentimos do outro não pode estar acima da verdade; a pena não pode estar acima da integridade; a pena não pode estar acima da lei moral de Deus. Negociar nossos valores por pena ou por nepotismo é falta de integridade para com o Senhor.

    Até aqui citamos vários exemplos de consequências que a crise da integridade tem provocado no que diz respeito a instituições governamentais, mas o que temos visto com relação às corporações privadas não é diferente.

    A falta de integridade no âmbito privado

    No dia 2 de dezembro de 2001, a famosa empresa Enron, uma companhia americana com cerca de 20.000 empregados, decretou falência. A acusação: suborno e tráfico de influência na América Central, na América do Sul, na África, nas Filipinas e na Índia; além de dívidas e outras perdas não relatadas. O prejuízo foi calculado em cerca de 63.400 milhões de dólares, a maior quebra sofrida por uma empresa na história dos Estados Unidos¹⁴, pelo menos até o ano seguinte, quando a WorldCom também quebrou. Mas, pior do que a falência financeira, foi a falência moral. O escândalo financeiro provocado pela Enron expôs práticas e atividades contábeis de muitas outras empresas nos Estados Unidos, como a Adelphia (que declarou falência em 2002), a Global Crossings e uma série de companhias que se sucederam umas às outras e que deram lugar a uma enorme crise financeira que, de certa forma, afetou o mundo inteiro. Tudo causado por uma crise de integridade daqueles que estavam no comando dessas empresas.

    A falta de integridade no âmbito da Igreja

    Em quarto lugar, a crise de valor também está presente dentro da Igreja. Cada vez mais ouvimos falar de escândalos sexuais que envolvem ministros de Deus e vemos como o consumo de pornografia entre os cristãos se dá, por vezes, em níveis tão altos quanto entre não cristãos. Do mesmo modo, escândalos financeiros entre ministros cristãos é algo cada vez mais comum. É muito triste ver que muitos usam o evangelho como moeda de troca, prometendo o favor de Deus em troca de dízimos e ofertas que acabam nos bolsos de uns poucos, enquanto se descuidam da congregação e da causa de Cristo.

    O cristão deveria se distinguir do não cristão por sua maneira de comprar, vender, investir, administrar seus recursos e fazer negócios. Quando o cristão é mau administrador do tempo e dos recursos que Deus colocou em suas mãos, ele desonra o evangelho de Cristo, que acaba com a reputação manchada.

    A este respeito, gostaríamos de citar o pastor John MacArthur, que em seu livro El poder de la integridad (o poder da integridade) nos ajuda a ver a falta de integridade em muitas práticas observadas na Igreja. Abaixo estão cinco circunstâncias que o autor aponta em seu livro, acompanhadas por meus comentários. O primeiro sinal que MacArthur menciona como uma contradição é o fato de que "pessoas que dizem crer na Bíblia congregam em igrejas onde não se ensina a Palavra de Deus".¹⁵ Estas pessoas não respeitam sua própria integridade. Da mesma forma, é uma falta de integridade e uma incongruência que, não tendo confiança em meus líderes, aceite em continuar sendo liderado por eles. Se você, como membro de uma igreja, tiver alguma dúvida em relação a seus líderes, o mínimo que deveria fazer é ir falar com eles e, com um espírito de mansidão e respeito, apresentar suas preocupações.

    Uma outra forma com que as ações de alguns indivíduos entram em contradição com a integridade que dizem ter é quando nos encontramos com "pessoas que estão de acordo que o pecado deve ser castigado, mas não se esses pecados são cometidos por seus filhos". Este é o segundo sinal que o autor destaca. De repente, o padrão parece mudar quando afeta de uma forma ou de outra a pessoa que deve tomar medidas contra o pecado. Mas o padrão da Palavra é o mesmo para todos, pois Deus não faz acepção de pessoas (Dt 10:17).

    Da mesma forma, vemos um terceiro exemplo quando "as pessoas se opõem à desonestidade e à corrupção até que eles precisem enfrentar seus patrões e o risco de perder seus empregos." Mas integridade consiste em manter-se firme em minhas convicções, independentemente do custo ou risco que isso possa me trazer.

    Um quarto exemplo seriam as "pessoas que mantêm altos padrões morais até que relações contrárias à Palavra de Deus despertam os seus desejos". Vemos, por exemplo, jovens e nem tão jovens que vivem de acordo com elevados padrões morais, mas que assim que são atraídos por alguém, seus desejos se acendem, e de repente, esses jovens veem sua moralidade comprometida.

    Pessoas que são honestas até que um pequeno ato de desonestidade lhes traga dinheiro. Cristo disse de uma forma muito simples: Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco, também é injusto no muito (Lc 16:10). O indivíduo que hoje engana o governo, amanhã poderá enganar sua esposa. A realidade é que as razões pelas quais ele não deve enganar o governo são as mesmas pelas quais ele não deve enganar sua esposa: temor de Deus, integridade pessoal, respeito a si mesmo e amor ao próximo. Talvez este seja um conceito difícil de transmitir, porém o respeito pela nossa própria integridade deveria ser um valor abraçado e defendido, independentemente das consequências que possam trazer para nossas vidas. Infelizmente, muitos dão mais atenção ao medo da rejeição e da vergonha do que à sua própria integridade.

    Ainda que o conceito de corrupção tenha sido associado quase sempre ao âmbito político, a realidade é que a definição de corrupção tem a ver com o conceito de integridade, algo fundamental na vida da Igreja.

    Troca de definições

    A corrupção se define como a alteração da integridade, de uma virtude ou de um princípio moral.¹⁶ Em outra definição, a corrupção consiste em induzir (como no caso de um funcionário público) por meios inapropriados (como o suborno) a violação de uma responsabilidade (como aquele que comete um crime). Note como ambas estão relacionadas com o conceito de integridade. Uma das definições fala de uma pessoa que induz a outra, por meios inapropriados, a violar uma responsabilidade. No entanto, não é este o caso na primeira definição, e sim que somos capazes de comprometer nossa própria integridade, sem que necessariamente outro nos induza, apenas porque queremos algo, porque temos um objetivo, e por ele violamos nossa integridade.

    O problema é que a linha entre o que é bom e mau, correto e incorreto, se torna cada vez mais tênue quando desejamos algo. É incrível a habilidade que o ser humano tem para qualificar como uma zona cinzenta o que antes era claramente branco ou preto, somente porque agora seus interesses estão em jogo. A verdade é que viver com integridade tem implicações mais amplas.

    As sociedades foram se transformando no decorrer dos anos e, com elas, valores também foram mudando. Com essas transformações de valores, mudaram também as definições destes, de tal forma que o que antes era definido de uma forma, hoje o é de outra. Como resultado, estamos à vontade em aceitar algo que no passado teria representado uma violação de nossa integridade e convicções.

    Na atualidade, a palavra imoralidade, na maioria dos dicionários, é apenas uma violação das normas que a sociedade aceita como boas e válidas. No entanto, se procurarmos a mesma palavra em um dicionário da década de 1820, imoralidade era definida como qualquer ato ou prática contrários aos mandamentos de Deus.¹⁷ Uma enorme diferença. Contudo, nos conformamos, nos sentimos à vontade com as novas definições pois elas não nos fazem questionar nossa integridade nem nosso modo de vida.

    Em seguida, compararemos a forma com que alguns termos eram definidos há alguns anos e a maneira como a cultura pós-moderna define esses mesmos termos: ¹⁸

    Tolerância antes: Aceitar os outros sem estar de acordo com suas crenças ou estilos de vida.

    Tolerância hoje: Aceitar as crenças, os valores, os estilos de vida e os conceitos de verdade de cada um como iguais.

    Aceitação antes: Aceitar as pessoas pelo que elas são e não necessariamente pelo que dizem ou fazem.

    Aceitação hoje: Aprovar e até mesmo elogiar os outros por suas crenças e estilos de vida

    Direitos pessoais antes: Cada um tem direito de ser tratado com justiça de acordo com a lei.

    Direitos pessoais hoje: Cada um tem direito de fazer o que acredita ser o melhor para si.

    Essas mudanças nas definições nos afetaram em todos os níveis e, deste modo, produziram uma transformação no nosso estilo de vida. A questão é que a mudança no estilo de vida vai redefinindo as coisas e, de repente, sem nos darmos conta, estamos num círculo vicioso do qual não sabemos como sair.

    como e onde nos perdemos?

    As perguntas são: onde nos perdemos? e como e quando se originou essa crise de valores que estamos vivendo? Houve um momento em que nos desviamos do caminho e, como consequência, acabamos onde estamos agora. Sem dúvida, nos perdemos no momento em que começamos a negar a existência de valores absolutos para julgar as ações humanas. Se cremos que não há lei moral absoluta, e nem um legislador desta lei, o resultado é que não podemos contar com uma bússola para nos orientar e acabamos perdendo o norte.

    A razão porque necessitamos das leis morais é para que nos orientem sobre o que devemos fazer, e não para que definam o que já estamos fazendo. Norman L. Geisler, em seu livro When Skeptics Ask [Quando os céticos perguntam], afirma que as leis morais não descrevem o que são, mas o que deveriam ser. Elas descrevem o que deveríamos fazer, se devemos fazer ou não.¹⁹ Daí a importância dessa bússola que é a lei moral. Ela vai me dizer o que devo fazer, ainda que eu não esteja fazendo.

    Hoje em dia, observamos o que estamos fazendo e, em função disso, definimos o que os outros deveriam fazer. Encontramos um exemplo disso no filósofo e escritor genovês do século XVIII, Jean-Jacques Rousseau, cuja filosofia política influenciou a Revolução Francesa, assim como o pensamento político, sociológico e educativo modernos. Rousseau, alguns anos antes da Revolução, teve cinco filhos ilegítimos que abandonou em um orfanato (quatro deles ele sequer reconheceu legalmente) e acabou formulando a teoria de que o Estado é quem deveria criar e educar os filhos.²⁰

    De igual modo, nós pecamos, cometemos erros e logo construímos uma cosmovisão que se ajuste ao que fizemos, de tal forma que justifique nossa maneira de viver. E isto não é exclusivo do não cristão; infelizmente também é comum entre os cristãos. É possível perceber isso quando alguém abre a Palavra de Deus e se encontra com o chamado para a santidade, mas logo sai e cria sua própria definição do que é uma vida santa. Fica claro que a Igreja perdeu o seu norte quando pensa dessa forma.

    Mas, como uma sociedade sem bússola, sem norte, toma decisões? Aqui estão alguns exemplos:

    Em uma sociedade sem bússola, as sondagens criam a opinião pública. No momento da tomada de decisões, vamos às pesquisas, olhamos as estatísticas e tomamos uma decisão com base nesses resultados. Entretanto, o que determina o que é ou não correto ou ainda apropriado, não é o voto da maioria, mas o fato de que haja uma lei moral, uma verdade não negociável. Por outro lado, a experiência tem mostrado muitas vezes que pesquisas são manipuladas e não necessariamente refletem a opinião real da sociedade.

    Em uma sociedade sem bússola, os políticos aprovam leis que garantem seus votos. Esta é uma realidade: os políticos estudam a sociedade, investigam o que a maioria entre os que votam quer, e então prometem o que eles querem. Assim que assumem o mandato, se esquecem dessa maioria ou tratam apenas de aprovar leis que beneficiam o grupo que os colocou no poder, sem se importar se isso é ou não o melhor para o país.

    Em uma sociedade sem bússola, os líderes religiosos querem agradar suas congregações. Com o objetivo de não perder ovelhas e nem ofender ninguém, vemos pastores e líderes religiosos adoçando os ouvidos de sua congregação, pregando a Palavra de Deus de forma diluída, muito abaixo do padrão bíblico. E então, como resultado, temos grandes congregações onde as ovelhas estão sendo acariciadas e entretidas em vez de confrontadas com a verdade e instruídas nela.

    Em uma sociedade sem bússola, a tecnologia redefine a verdade. Anos atrás se discutia em que momento se podia ou não fazer um aborto. Dizia-se que a data limite deveria ser a 28ª semana de gestação, já que o bebê não era capaz de sobreviver antes disso e que, por esse motivo, não poderia ser considerado um ser humano. A tecnologia avançou e os bebês nascidos prematuramente podem ser salvos ainda mais cedo. A partir daí, começou-se a falar então que a data limite deveria ser a 24ª semana de gravidez porque a partir daí o bebê poderia sobreviver. Agora que o bebê é viável a partir da 24ª semana, ele é considerado uma vida humana, mas não era assim quando a tecnologia não o permitia. De maneira que o conceito de vida é definido pelo avanço da ciência. Hoje, temos crianças que puderam sobreviver a partir da 22ª semana de gestação; então, alguns consideram o bebê como um ser humano a partir desta data. De novo, isso implica dizer que é a ciência e o seu avanço que parece determinar o que é ou não uma vida humana. A verdade não muda com o progresso do homem. A Palavra afirma que Deus forma o embrião e cuida do desenvolvimento dessa vida desde o momento de sua concepção (Sl 139: 13-17).

    Em uma sociedade sem bússola, o respeito à privacidade está acima da moral. Uma vez mais usaremos o caso do aborto como exemplo. A mulher grávida diz que o ventre é seu, que é privado e que, por isso, ela pode fazer o que quiser com a criatura que está dentro dele. Ela tem direito de dirigir sua vida. Como resultado, a constituição de muitos países defende o direito ao aborto tendo como base o direito à privacidade. Em outras palavras, para essas pessoas, a privacidade está acima do que Deus pensa.

    Em uma sociedade sem bússola, a posição intermediária entre dois extremos deve ser a correta. Outra forma que a sociedade sem valores absolutos tem para determinar o que é certo ou errado é buscar uma posição intermediária que não ofenda ninguém; e como consequência, não ser ofensivo passou a ser um valor. Ser tolerante é um dos valores primários de nossa sociedade moderna, está acima do caráter e da verdade. No entanto, mais uma vez, não podemos negociar a verdade porque, quando o fazemos, estamos negociando a integridade. Em uma sociedade em que o maior pecado é ser ofensivo e a maior virtude é não o ser, é difícil compartilhar uma mensagem que, em sua origem, seja ofensiva à mente do homem caído.²¹

    Em uma sociedade sem bússola, se algo faz com que você se sinta bem, não pode ser mal. Os sentimentos se sobrepõem a todo o resto. Esta forma de pensar é a que está por trás da famosa frase da célebre marca de roupa esportiva Nike, Just do it!, que significa Apenas faça!. Se faz com que você se sinta bem, apenas faça. O prazer passou a ser um valor que pesa mais do que a integridade. Citando novamente Erwin Lutzer, a realidade é que por natureza não somos movidos pela razão, mas por nossos desejos. Sem os limites das leis e da religião, o homem sempre se desviará em direção ao seus desejos, suas sensações imediatas.²²

    A sociedade de hoje, como mencionamos antes, não tem apreço pelas leis de Deus e nem crê na existência de um padrão absoluto pelo qual todos devemos ser regidos. O problema é que, como resultado do desaparecimento do padrão, o conceito de bem ou mal some também, e com ele o conceito de culpa.

    Se há algo que caracteriza nossos dias é a ausência do sentimento de culpa e a maneira como racionalizamos as raras vezes em que nos sentimos culpados. Infelizmente, vivemos no século da exoneração. O homem não só quer exonerar-se da culpa, como também fica chateado quando os outros não o exoneram. Quando começamos a ver a linha cada vez mais turva entre o bem e o mal, a culpa começa a desaparecer.

    No entanto, devemos salientar a diferença entre o sentimento de culpa e a vergonha. A culpa é um sentimento de dor emocional que se experimenta ao violar uma lei ou um código moral, além da razão que levou a pessoa a cometer essa violação. Enquanto a vergonha é uma emoção ou sentimento que se experimenta ao descobrir que não somos o que deveríamos ser ou o que pensávamos ser. É importante fazer essa distinção porque muitas vezes, no caso de não sermos descobertos, tendemos a nos sentir bem com nós mesmos, porque o que valorizamos não é a integridade, e sim, evitar o constrangimento. Somos capazes de fazer o impossível para evitar o constrangimento diante dos outros.

    E então, se a lei moral e o seu legislador não existem, ambos os sentimentos, a culpa e a vergonha, desaparecem; e com eles o sentido do dever, que é definido como a disposição para honrar com nossas obrigações, sem esperança de recompensa, ou sem medo de ser punido .²³

    Raramente encontramos pessoas que tenham a disposição de fazer um trabalho sem esperar recompensas. Mas isso não deveria nos surpreender, porque muitas vezes são os próprios pais que ensinam os seus filhos assim. Um pai que promete ao filho levá-lo ao cinema se este se comportar, de forma indireta, está ensinando que é preciso comprar sua obediência. Podemos persuadir o bom comportamento ou desempenho de nossas crianças com algum detalhe, se quisermos, mas esse pai não deveria ter que comprar sua obediência. A obediência é um dever dos filhos para com seus pais.

    Como cristãos, devemos inculcar em nossos filhos o sentido do dever desde a mais tenra idade. O problema é que queremos exigir que nossos filhos demonstrem um caráter que nós mesmos não estamos refletindo, e que também não formamos neles.

    O papel da igreja: a formação de uma mente bíblica

    A mente é o filtro de toda a informação recebida e de toda a informação que sai de nós. Tal mente foi profundamente afetada pela queda do homem, e esse processo de mudança na capacidade de discernir continuou a agravar-se ao longo dos anos, com as informações não provenientes da Bíblia que recebemos enquanto crescemos. Isso acontece de formas diferentes. Para ilustrar como este processo ocorre, vejamos as imagens que as campanhas publicitárias nos apresentam. Estas são mais que o reflexo de uma sociedade que cria necessidades irreais na mente de nossos jovens em vez de satisfazer as necessidades da alma. Um exemplo disso é a distorção que existe sobre o conceito de beleza para esta geração. Uma agência publicitária contrata uma modelo profissional, a maquia com os melhores produtos, a fotografa com a melhor iluminação, retoca as fotos com o melhor software de edição disponível; em seguida, imprime as fotos e as coloca em um outdoor gigante que diz: Use este produto e você será como ela. Desta forma criamos modelos e desejos de beleza fictícios. Nossa percepção da beleza está distorcida. Essa prática implica em uma falta de integridade da parte das empresas e das agências publicitárias, e o pior é que a população acredita nesta mentira.

    É dever da Igreja falar das necessidades reais do ser humano e mostrar ao mundo que somente Deus pode satisfazê-las. A alma tem necessidades reais de algo que vai além do tempo e do tangível porque Deus colocou a eternidade no coração do homem (Ec 3:11). No entanto, mesmo sabendo disso, o povo de Deus não está cumprindo o seu papel de ser luz no meio de uma geração corrompida e perversa (Fp 2:14-16).

    Josh McDowell, em seu livro É bom ou é mau, explica as razões pelas quais, segundo ele, a sociedade está como está:

    Acredito que uma das principais razões pelas quais esta geração está marcando novos recordes de desonestidade, falta de respeito, promiscuidade sexual, violência, suicídio e outras patologias, é porque perdeu suas orientações morais, suas crenças fundamentais. Suas crenças fundamentais sobre a moralidade e a verdade foram minadas. Como disse o jornalista Rowland Nethaway, eles não parecem distinguir o correto do incorreto.²⁴

    E como resultado, a verdade se converteu em uma questão de gosto; a moralidade foi substituída por preferências individuais.²⁵

    Nossos jovens estão sendo educados em escolas que dizem oferecer uma educação livre de valores, moralmente neutra. Os livros e os professores afirmam: Não podemos dizer o que é bom ou mau. Você deve decidir por si mesmo. Apenas podemos fazer com que esteja consciente das opções".²⁶ Isso tem permeado as instituições educativas em todos os níveis. Em uma ocasião entrevistamos um professor de ética de uma das universidades católicas de Santo Domingo, República Dominicana, e ele disse algo muito parecido. Ele disse: Na prática, eu não posso dizer aos meus alunos o que é bom ou mau. Eu simplesmente lhes digo quais são as diferentes opções e sistemas éticos, e então, cada um decide como quer viver. Infelizmente, esta é a realidade da nossa sociedade e nós, como cristãos que estamos inseridos nela, não podemos ignorá-la porque também nos afeta.

    Quando não temos um padrão absoluto, todas as áreas de funcionamento social são afetadas, desde os filmes que assistimos até a maneira como nos comportamos ao fazer uma prova. É muito triste ver que, mesmo dentro da Igreja, perdemos não somente o sentimento de vergonha, mas também um sentimento de culpa. E é por essa razão que entendemos ser necessário falar sobre essas coisas com o povo de Deus, pois a Igreja está sendo afetada, sua liderança está sendo afetada. E se isso acontece com a liderança, o que será das ovelhas? Se isso acontece dentro da Igreja de Cristo, como podemos ser sal e luz para a sociedade? Seremos apenas cegos guiando outros cegos (Mt 15:14). A Igreja deve ajudar o cristão a desenvolver uma mente bíblica, de forma que seus pensamentos e ações estejam de acordo com a verdade divina. E que ele possa, dessa maneira, impactar seu entorno e cumprir seu papel de ser luz do mundo e sal da terra.

    Infelizmente, hoje estamos onde estamos porque, como disse o filósofo grego Protágoras há muitos anos, o homem é a medida de todas as coisas. Ainda que esse seja um conceito que venha da antiguidade, hoje, mais do que nunca, vemos como todas as coisas se medem de acordo com o conceito que o homem tem delas. E não somente isso, mas também medimos o valor das coisas, e até mesmo das pessoas, de acordo com os benefícios que elas podem nos trazer. Como mencionamos antes, raramente encontramos pessoas que estejam dispostas a fazer algo sem receber algum tipo de benefício em troca. E esta maneira de pensar, tão comum no mundo, se infiltrou na Igreja em diversos níveis.

    Como vimos até agora, tudo que acontece na sociedade afeta a Igreja. Por essa razão, o cristão deve prestar muita atenção a tudo o que invade sua mente, pois o que invade sua mente, invade também seu coração, e o que invade seu coração tem impacto na maneira como ele conduz sua vida cristã.

    Em uma cultura tão emocional como a de nossos dias, como podemos comunicar o evangelho a uma geração que ouve com os olhos e pensa com as emoções?²⁷ A verdade é que é muito difícil, porque é uma cultura que vai atrás da concupiscência dos olhos; mas é dever da Igreja

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